Este mês vamos eleger nossos representantes nas 5570 Prefeituras, Vice-Prefeituras e Câmaras de Vereadores de todo o país. Na teoria, os 67,8 mil cargos públicos eletivos deveriam ser ocupados por representantes comprometidos com as demandas dos municípios e principalmente com políticas públicas que beneficiem suas populações, sobretudo as mais vulneráveis.
Sabendo que essa não é exatamente a nossa realidade e considerando o atual contexto político-econômico brasileiro, nunca foi tão importante refletir com responsabilidade sobre quem deverá nos representar. Diante de tantas incertezas, temos pela frente um cenário bastante desafiador.
Primeiro, porque o país vive uma de suas piores crises, cujo impacto recai diretamente nos municípios e seus moradores. Segundo, porque estamos há oito meses enfrentando uma pandemia sem precedentes e que virou do avesso as nossas vidas, de nossos familiares e amigos, e também a nossa economia, agravando um cenário já bastante frágil. E terceiro, porque depois de algumas experiências nas urnas, já percebemos a potência de nossas escolhas e o quanto elas impactam nossas vidas. Portanto, é hora de aproveitar esta oportunidade, pesquisar os candidatos, suas histórias e principalmente seu potencial para amparar os municípios no enfrentamento de suas dificuldades.
Com a pandemia, as cidades brasileiras viram sua economia ir por água abaixo. É verdade que muita gente se reinventou e até descobriu novas formas de se colocar no mercado. Mas a grande maioria dos empreendimentos, sobretudo os pequenos, que não tinham uma reserva, acabaram fechando suas portas, demitindo funcionários e rompendo sonhos que foram construídos com muita dedicação e sacrifício.
Apesar de somarem 17 milhões de empresas, empregarem metade da mão de obra formal e serem os grandes geradores de emprego no país, o faturamento dos pequenos negócios já caiu 55%, conforme pesquisa realizada pelo SEBRAE. Cabe aos candidatos e candidatas criarem mecanismos eficientes de apoio aos pequenos negócios, buscando permanentemente o desenvolvimento local. E cabe ao eleitor e à eleitora escolherem pessoas omprometidos com essa causa.
O Brasil é o quarto país mais empreendedor do mundo.
Em 2019, mais de 53 milhões de brasileiros, quase 39% da população adulta, estavam envolvidos na criação de um novo negócio ou em empreendimentos “antigos” (GEM - Global Entrepreneurship Monitor 2019). Força viva da economia brasileira, os pequenos negócios, de acordo com o SEBRAE, representam 98% das empresas do país, são responsáveis por 54% dos empregos formais, 30% de toda a riqueza nacional e estão presentes em 100% dos municípios brasileiros.
Apoiar os empreendedores é fortalecer o empreendedorismo, revelando o potencial e a riqueza do país a partir dos municípios, gerando renda, emprego e prosperidade.
As eleições municipais são o momento exato para olhar para a situação do país e definir prioridades. Afinal, é no município que tudo começa. Programas de governo e propostas assumidas devem refletir os interesses e as demandas da população. Os eleitos nas Prefeituras e nas Câmaras de Vereadores terão de contar com mecanismos firmes para superar a crise, apoiando e valorizando os pequenos negócios, levando em consideração as características, as potencialidades e a situação do município e da região no esforço de recriar um ambiente favorável aos empreendimentos de menor porte.
A retomada econômica faz-se urgente e necessária, mas é preciso que cada um faça a suaparte assumindo um compromisso com o seu futuro e o futuro do seu município. Para ajudar nessa escolha, podemos conhecer um pouco mais sobre nossas cidades através do diagnóstico da situação municipal criado pelo SEBRAE, o DataSebrae, que oferece informações atualizadas sobre todos os municípios, produzidas por instituições renomadas como IPEA, IBGE e Receita Federal.
Outra dica é acessar a publicação “Seja um Candidato Empreendedor - 10 Dicas, 100 Ações do Sebrae” que oferece muitas ideias para enriquecer plataformas de governo, arregimentar apoios e nortear o caminho da futura administração municipal.
A Casa Dez reuniu as principais ações dessas dez dicas. Vale a pena conferir e depois checar se o plano de governo dos seus candidatos ou candidatas contemplam essas ações. Vamos dar uma olhada?
- Geração de emprego – é necessário que as prefeituras criem programas de desenvolvimento a partir das vocações e oportunidades dos municípios e da região onde estão situados, estimulando e facilitando a formalização de empreendimentos e de microempreendedores individuais.
- Mobilização de lideranças – é preciso promover uma agenda de desenvolvimento do município em parceria com empreendedores e lideranças locais, apoiando os empreendimentos para que utilizem espaços urbanos adequadamente, estabelecendo um diálogo permanente com o setor produtivo.
- Desburocratização e simplificação – é necessário reduzir o tempo de abertura de empresas, simplificar processos, valorizar os pequenos negócios por meio da aplicação da Lei da Liberdade Econômica, apoiar o licenciamento e comercialização de produtos locais com a implantação do Serviço de Inspeção Municipal.
- Apoio ao empreendedor – é importante oferecer capacitações e cursos técnicos e gerenciais aos empreendedores, apoiar pequenos negócios locais na aproximação com grandes empresas, na participação de feiras e na prospecção de novos mercados.
- Compras no município – deve-se dar preferência aos pequenos negócios locais e regionais nas compras do município, contratar Microempreendedores Individuais para realizar pequenos reparos e serviços diversos em prédios e espaços públicos e promover campanhas de valorização de compras no comércio local.
- Inclusão do empreendedorismo nas escolas – é preciso implantar o ensino do empreendedorismo na rede escolar municipal, incluindo inovação, sustentabilidade, educação financeira e associativismo, formar professores na área e incentivar a participação de alunos em eventos do setor e datas comemorativas.
- Qualificação de quem mais precisa – é importante apoiar os empreendedores autônomos na inclusão no mercado de trabalho nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), construir parcerias com organizações da sociedade para promoção da inclusão pelo associativismo e empreendedorismo, promover programas de requalificação de trabalhadores para adaptação a novas tecnologias e oportunidades e preparar os pequenos negócios para vender para a prefeitura.
- Fortalecimento da identidade do município – é muito importante trabalhar para a identidade e a diferenciação do município e região e divulgar produtos e atrativos locais, implantando a Indicação Geográfica e promovendo a marca regional.
- Incentivo à cooperação – é necessário fomentar cooperativas de produtores e prestadores de serviço e crédito junto aos empreendedores locais, incentivar o associativismo e a cooperação para compras compartilhadas, produção coletiva, divulgação e comercialização de produtos e apoiar as entidades de representação dos setores produtivos.
- Promoção da inovação e sustentabilidade – é preciso garantir internet de qualidade nas escolas, prédios públicos e praças, apoiar espaços de inovação, startups locais e incubadoras, implantar serviços online e desburocratizados para a população, modernizando o atendimento da prefeitura, estimulando o uso de fontes de energia sustentável e reciclagem de resíduos e fomentando a implantação do Código Florestal, a preservação de mananciais e do meio ambiente no meio rural e urbano.
Já deu pra perceber que o voto consciente é a única ferramenta para escolher representantes mais visionários e comprometidos com o futuro dos cidadãos e com a saúde das contas públicas. Os papéis de Prefeitos(as) e Vereadores(as) são de importância vital na retomada da economia dos municípios.
Não podemos permitir que um dos cinco países mais empreendedores do mundo tenha à frente de seus municípios representantes pouco ou nada comprometidos com o empreendedorismo local e com a responsabilidade socioambiental.
Por Gláucia Centeno - Cofundadora da Casa Dez - Jornalista com formação em design e responsabilidade social.